A tradição do folar é tão antiga que a sua origem se perde no tempo. Segundo a
lenda, este bolo simboliza a reconciliação e a amizade. Está também relacionado com o final do período de jejum e penitência vivido durante a quaresma.
Do ponto de vista simbólico é uma tradição existente em todo o país. No entanto, em termos culinários é muito diferente de região para região.
A receita que vos apresento é da região do Algarve. Mais do que uma receita, trata-se de um tesouro - um tesouro de familia!
O resultado final é fabuloso! Mas mais importante do que o resultado é o que este tesouro envolve - a união da familia que se reune para vivenciar saberes e sabores que atravessam o tempo e unem gerações!
Ingredientes:
(como em todas as receitas seculares este folar é feito com quantidades calculadas a "olho", pelo saber feito de experiência. A grande "mestre" da receita é a minha mãe, eu tentei medir e pesar todos os ingredientes, de modo a ter uma receita mais objetiva)
6 Kg de farinha
1/2 L de gordura derretida: banha, manteiga, óleo e azeite
1 pitada de sal
sumo de 2 laranjas
1/2 L de leite morno
Chá morno q.b. (feito com grãos de ervas doces, pau de canela e casca de limão)
1 c. sopa de ervas doces em pó
3 Kg de açúcar
1,5 dL de vinho do Porto
fermento de pão
açúcar e canela q.b. para polvilhar
ovos inteiros com casca q.b.
Preparação:
(demora 3 dias!)
- Prepara-se o fermento (que se guardou na última vez que se fez pão), com água morna e um pouco de farinha e deixa-se a descansar até ao outro dia.
- Num alguidar grande (de preferência de barro), coloca-se a farinha abre-se um buraco no meio, coloca-se o sal e deita-se a mistura de gorduras bem quente por cima da farinha, mexendo com uma colher de pau (chama-se a isto escaldar a farinha).
- Vai-se envolvendo a farinha com os ingredientes líquidos (chá, sumo de laranja e leite), mexendo com as mãos.
- Depois mistura-se o fermento que se preparou. Não pode ser misturado no princípio para não escaldar.
- Em seguida adiciona-se o açúcar, o vinho do Porto, as ervas-doces e um ovo de cada vez.
- Vai-se trabalhando a massa, amassando e misturando mais chá conforme for necessário de modo a obter a consistência adequada (é um pouco mole).
-Tapa-se o alguidar com um pano branco e este é envolvido em cobertores ficando a massa assim agasalhada a descansar até ao dia seguinte para levedar.
-Untam-se as formas (nós usamos tachos pequenos e redondos) com manteiga e polvilha-se com farinha.
- Coloca-se uma camada de massa, polvilha-se generosamente com açúcar e canela e margarina aos cubos. E vai-se colocando sucessivas camadas até a forma estar cerca de 2/3 cheia.
-Antes da última camada de massa coloca-se também um ovo inteiro com casca e cru. (Símbolo do inicio da vida e do renascimento).
-Tapa-se com uma última camada de massa.
-Deixa-se a repousar por mais algum tempo, enquanto se vai aquecendo o forno a lenha.
-Vão a cozer em forno de lenha durante 1 ou 2 horas, dependendo da temperatura do forno. Verifica-se a cozedura com o método de espetar um palito.
-Depois de cozidos retiram-se do forno e desenformam-se de imediato.
-Guardam-se num tabuleiro de madeira tapados com um pano branco.
O resultado final é um bolo seco, mas com deliciosas camadas húmidas com o açúcar e canela que se misturaram com a manteiga derretida.
Apesar de ser um folar doce não é demasiado enjoativo (ao contrário dos folares, ditos tradicionais do Algarve, que se encontram à venda em grandes superfícies comerciais).
As tradições são o nosso melhor património e a nossa maior riqueza, aprendamos a manté-las e a transmiti-las ás gerações seguintes!
Boa Páscoa !